Manaus (só de fugida) (dia 15 e 16)
2 de Novembro - Quinta-feira (dia 15) - (continuação)
-Chegada ao aeroporto de Manaus às 16h, agora já familiar.-Sair rapidamente, ônibos por um 1,8 Reais-Sair do ônibos e procurar o Hotel Kyoto, onde estava hospedado o Ernesto (finalmente vou conhecer o personagem em pessoa), o que ainda me obrigou a dar umas voltas de mochilas às costas. Era feriado e a cidade estava deserta, o que não é o melhor para a segurança, mas foi tranquilo.-Hotel Kyoto, um hotel simples, uma porta estreita e um balcãozinho no saguão da escada. Tem a parte boa de ser um terço do preço do meu primeiro Hotel em Manaus, 30 Reais (+ou- 11Euros) mas o quarto que é o que conta não difere muito.-O Ernesto não estava no hotel.-Largar a bagagem-Banho (indispensável muitas vezes ao dia)-E dar mais uma volta pela cidade sem máquina e com a garrafa de água da praxe na mão-Jantar,-Net para verificar msgs,-E voltar ao hotel onde já se encontrava o Ernesto. Deram-me o quarto ao lado do dele pelo que assim que me ouviu chegar foi lá bater.-A primeira impressão muito positiva, ficamos conversando sobre a várias possibilidades que tínhamos, onde é que íamos subir (a comunidade Índia do Roçado) que depois dos 730 km de Barco até Sta Isabel ainda seriam mais 200 km num pequeno barquinho a motor.-O Ernesto é uma pessoa nos seus trinta anos muito simpático e com um ar mais dinâmico e despachado do que eu tinha imaginado. Esteve vivendo com esses índios na aldeia deles cerca de 4 meses e aprendeu até a língua (que é única dessa comunidade índia).Discutir planos e dormir.3 de Novembro - Sexta-feira (dia 16)Tínhamos combinado acordar cedo, 7 horas e subir para o último piso do "café da manhã" . Enquanto tomávamos o pequeno almoço (frugal, bom para quem quer fazer dieta, mas por 1/3 do preço...) fomos discutindo as nossas opções. O objectivo era chegar ao Roçado que é uma aldeia indígena que vivem isolados do resto da sociedade e que de Santa Isabel são 3 dias de Rabeta (um pequeno barco com um motor quase a vapor, cuja hélice está na ponta de um cano de 2 metros) ou numa lancha em que seriam 10 horas mas sairia mais caro que uma viagem de avião.... assim quatro dias de barco de Manaus para Santa Isabel, mais três dias para subir para o Roçado, três dias com os Índios, mais três dias para descer sobravam-me 2 dias para chegar a fortaleza a uns pares de milhares de quilómetros, isto considerando que não teria dias perdidos pelo meio, uma vez que existem sempre imprevistos.Esse "café da manhã" foi importante, decidi ai o resto da minha viagem. Desisti da descida de barco de Manaus até Belém do Pará e de Ônibus até Fortaleza e decidi ir a uma agência turística ver as opções de voo de Santa Isabel até Fortaleza.E ficou entretanto assente que para já subiríamos no barco Tanaka até Santa Isabel do Rio Negro a 730 km de Manaus, e daí as opções iam ficar em aberto porque as variáveis dos vários cenários possíveis eram demasiadas e o meu tempo começa a parecer curto, e daí tudo poderia acontecer até a possibilidade de eu e o Ernesto seguirmos caminhos diferentes. Mas a providência, nesta minha viagem, tem estado do meu lado pelo que decidi arriscar.Entretanto alarme!!!! Após uma informação importantíssima: o Ernesto informou-me que após sair de Manaus não vai haver forma de levantar $$$.
Até às 16:30 da tarde, hora em que deveria estar no Barco Tanaka, teria que levantar $$$ comprar mantimentos, comprar rede para dormir no barco, comprar toalha para o resto da viagem (porque dificilmente ficarei em hotéis ou pensões), ver as opções de voo para voltar para Portugal, comprar baterias para a máquina fotográfica e ir ao aeroporto comprar os eventuais bilhetes de avião porque só lá é que aceitam Visas não emitidos no Brasil (nenhuma agência turística aceita o que é um absurdo!!!!).
E saímos para a rua e foi aí que tudo se complicou...
Voos até havia, o sistema de reservas é que estava em baixo.
Só conseguia levantar $$$ com um dos cartões e precisava de bem mais dinheiro. Solução seria ir comprar directamente ao aeroporto com o Visa mas para ajudar começou uma tempestade tropical daquelas em que o céu desaba em água e para ajudar com trovões a cair na cidade mesmo por cima de nós. Resultado: trânsito parado e impossível ir ao aeroporto.
Entretanto chegou um personagem inesperado, John Lennon, sim é esse o nome dele, um amigo do Ernesto, um cara ultra simpático que nos acompanharia até ao barco e em casa de quem ficaríamos em Santa Isabel. Perante o problema da minha falta de $$$ lembrei-me que tinha ainda 150 Euros guardados para uma emergência (que era o caso), e o John indicou-me um local de cambio paralelo onde podia conseguir um melhor valor.
Depois disto lá o sistema voltou a funcionar e consegui reservar os voos e comprar em cash. Os voos do regresso no dia 17 serão todos de seguida, todos encadeados com duas horas de permeio: Sta Isabel/Manaus (na Trip) - Manaus/Fortaleza (na Gol, a mesma que caiu um avião o mês passado) - Fortaleza-Lisboa (na TAP).
No meio dessa correria almoçámos no mercado de Manaus, um dos poucos edifícios que restam da época áurea de Manaus, também em arte nova como o Teatro.
Quando voltei ao hotel e já a nossa boleia esperava por nós. Ir ao quarto buscar a bagagem. Entretanto lembrei-me que me tinha esquecido de comprar uma toalha, "no worries" agarrei na do hotel e à saída perguntei à recepcionista do hotel quanto queria pela toalha que eu ia roubar, ao que ela disse que se fosse nova custava 10 Reais (nem três euros eram) ao que eu disse vendido. Carregar as coisas no carro com a minha toalha nova e seguir para o Porto secundário de S. Raimundo onde se encontrava o nosso barco Tanaka.
A chegada a este porto secundário foi interessante, um caminho de terra em que quase só jipes passavam, e começar a ver um espaço aberto de terra batida (alagada com a tempestade que agora tinha acalmado um pouco) que acabava directamente no rio onde os barcos estavam encostados. Esse espaço formigava de frenesim e agitação, centenas de pessoas a chegar aos barcos aí parados, carros e camiões a descarregar mantimentos que eram levados para o barco por carregadores que levavam pacotes enormes na cabeça, de comida, bebida, roupa etc. É que este barco é dos poucos modos de transporte que acede ao alto rio Negro para onde nós vínhamos, levando de tudo para as populações que vivem ao longo de 1000 kms de rio.Saímos do carro e tivemos que serpentear pelo meio dessa agitação, subir uma estreita tábua e entrar no barco no meio de uma série de carregadores. A sensação é que estava a recuar no tempo umas largas dezenas de anos.
Entrando no barco a prioridade foi estender a rede no melhor local possível antes que todos os locais para a pendurar já estivessem ocupados. Íamos ficar como cabides pendurados num armário em que não cabe nem mais um casaco.
Depois disso, foi comprar a passagem, e ficar a confraternizar junto ao barco, com o pessoal de Santa Isabel que ia chegando e que o John Lennon nos ia apresentando, bebendo umas cervejas e comendo umas espetadas cozinhadas numa banquinha de rua que tinham improvisado junto ao Barco. Foi o que nos valeu porque o Barco atrasou e saiu só às 10 da noite.
A vista do barco para a cidade neste local era apenas uma encosta coberta de casas (cabanas de madeira) construídas sobre estacas por causa das enchentes do rio. O rio pode subir até 9 metros aqui.
O barco Tanaka é um barco em madeira com três pisos, os dois primeiros totalmente abertos de lado, apinhados de redes penduradas (eu ia no piso de baixo) e o terceiro andar com a metade de trás aberta, sem tecto, para convívio e churrascadas e a parte da frente fechada com uns 6 camarotes duplos, com acesso por fora pela lateral. Prometia ser uma viagem interessante.
Entretanto tivemos a feliz notícia que o barco levaria só três dias a chegar a Sta Isabel do Rio Negro e não Quatro. Ou seja tinha acabado de ganhar mais um dia.Às dez da noite o barco finalmente arrancou, já noite cerrada. O ritmo do barco era lento e compassado numas águas de rio que parecem um espelho. Segundo comentário do Ernesto esta viagem é o ideal para entrar no espírito e principalmente no ritmo da Amazónia, calma, suavidade e relaxamento (no bom sentido). Lembro-me de estar com a sensação que a minha viagem estava só agora a começar.
Depois da confusão do dia fiquei uns bons minutos a olhar para o rio, agora escuro, e a gozar o ambiente e o momento. Realmente iria ser uma viagem calma.
Depois disso foi ter o primeiro contacto com a minha rede, acabada de comprar, e dormir tranquilamente.
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